domingo, setembro 17, 2006

Ainda sobre inclusão....

"Nada mais injusto do que tratar o desigual como igual" (José Alonso)


Continuo em ebulição com esse tema:
- talvez a inclusão nos force a construir uma nova educação;
- será que realmente estamos trabalhando a solidariedade e a aceitação ao colocar as crianças com necessidades especiais na escola?
-parece-me que a inclusão é mais social do que cognitiva (?)
Nesse estado embrionário, posso concluir que:
- É NECESSÁRIO ESTABELECER DIRETRIZES DE QUANDO E COMO PODEMOS INCLUIR.

E uma professora (amiga minha) enviou-me por e-mail a seguinte reflexão. E faço dela, minhas palavras:

“Há dias que eu estou incomodada com o que vi num determinado capítulo da novela de Manoel Carlos. Cheguei mais cedo do trabalho, liguei a TV e deparei-me com a cena da mãe de uma criança Down revoltada com o tratamento dado à sua filha numa escola regular. E ainda nesta mesma cena, a mãe entrando sorrateira na sala de aula da filha, discutindo com a professora, tomando sua filha pelas mãos e colocando-a na mesinha com os colegas para fazer sua atividade. Quando saíram da sala para o corredor da escola houve um estranhamento entre as duas, porém entendendo ambas, digo que respeitando a angústia da mãe, esse direito de "invasão" à sala de aula ela não tinha, pois mesmo sem saber como agir ou agindo errado, a atitude deveria ter sido outra.
Invertendo a situação: se a professora tivesse "invadido" o consultório da médica em questão, tirado a paciente do exame e a tivesse colocado sentada em outro local para poder conversar com a médica sobre a sua postura profissional, qual seria sua reação? Como essa atitude seria entendida?
Desabafo: Será que dentro de uma sala de aula não podemos trabalhar com tranqüilidade? Onde estão a valorização e a confiança no profissional da educação? E a parceria família-escola?
A transparência e a clareza de um relacionamento onde a peça central é o educando não pode ser vista e tratada desta maneira. Este tipo de atitude deve ser repensada e tratada com carinho... Afinal, são vidas que estão em nossas mãos.
Para refletirmos:
E nós professores? E as nossas angústias como educadores? Nos é proposta uma nova lei: A INCLUSÃO. Proposta digna, interessante e justa... E agora? Como trabalhar com essas crianças? Quem nos dará suporte? Teremos cursos? Haverá algum profissional especializado dentro ou fora da escola para auxiliar-nos? Quem responderá às nossas dúvidas? E as perguntas, as dúvidas por aí vão...
Alguns profissionais, resolvem "correr atrás", porém a maioria não recebe um salário suficiente para manter as despesas pessoais da casa, como o básico comer, morar, vestir-se, sustentar a família... Pergunto, então:
- Como tirar do salário curto algum recurso para aperfeiçoar-se?
- E as verbas destinadas a educação, inclusive algumas destinadas ao auxílio à docência, por que não chegam até nós?"
Um Abraço,
Simone Gomes da Silva Borges


domingo, setembro 10, 2006

“As melhores núpcias são aquelas em que você realiza consigo mesmo”


Ontem numa roda de conversa, um amigo disse isso e fiquei pensando nisso:

Quando estamos nos relacionando, temos dificuldade em reconhecer que a relação acabou faz tempo. Ficamos ali, investindo tempo (físico e emocional) numa relação mal-sucedida, relutando em pôr um ponto final. Insistimos em nos martirizar, nos iludimos achando que ainda pode dar certo. É um desgaste total. Tudo isso por causa do medo desconhecido. Por que relutamos tanto em recomeçar e mudar?
Quando solteiros damos vazão à carência (essa é danada!) A atitude depende da fase em que estamos:
Fase da procura insana – desesperadamente, imploramos por afeto e ficamos com as pessoas sem estabelecer muitos critérios. Estamos abertos por que der e vier.
Fase da calmaria – “cansados de dar com os “burros n” água” selecionamos melhor nossos parceiros.

E no meio da procura ou da calmaria, às vezes somos “mordidos pelo bichinho” da carência. Questionamos e reclamamos para Deus, para os amigos: por que não tenho alguém? Fica pior quando olhamos para o lado. Se dermos muita vazão a isso, nossa auto-estima vai pro “brejo”.
Devo confessar que é bem autobiográfico o que estou escrevendo. E, cansada de por estas idas e vindas, resolvi investir em mim mesma. Por que ficar esperando por alguém? Nessa espera, corre-se o risco de deixar de viver. Olhando para trás, vejo que muitas vezes deleguei ao outro a responsabilidade de me fazer feliz.
Em vez de esperar e/ou lamentar por que não canalizamos isso de outras maneiras? O afeto é fundamental em nossas vidas. Mas enquanto mulher, creio que estamos uma importância demasiada a casamento. Uma perguntinha que sempre me fiz:

Quando solteiros as pessoas querem por que querem ter alguém. Mas por que será que essas pessoas não felizes quando estão com alguém?

E tenho outra pergunta crucial:

Por que não posso ser feliz sozinha?

Posso vivenciar o afeto de outras maneiras: cuidando de mim mesma, cultivando os amigos, aproveitando os bons momentos vividos em família, ou seja, curtindo a vida nos preciosos momentos em que ela oferece (independente de estar sozinha).
E tem uma coisa maravilhosa que o estar sozinho proporciona: descobrir o que quero para minha vida, afinal sou responsável por ela! E às vezes, o nosso querer verdadeiro não tem nada a ver com relacionamento... Mas isso já é outra conversa...
INCLUSÃO OU EXCLUSÃO?
Antigamente o modelo de inclusão era o de integração. O aluno ia para a escola regular em dois casos:
- só depois de ter cursado uma instituição (como a Apae, por exemplo) o aluno ia para uma turma “normal”
- a criança ia para a escola regular e criavam-se salas especiais. Reuniam-se nessa sala todos os alunos portadores de dificuldades.
Hoje é a intenção é outra: inserir o aluno numa escola regular. Na verdade, às vezes acho que o verbo correto não é inserir e sim jogar. No papel é lindo, mas o que vezes na prática é bem diferente: professores despreparados, infra-estrutura inadequada, preconceito dos próprios pais....
Sei que é necessária uma revisão de conceitos e preconceitos no que se refere à inclusão. Sei também que eu preciso trabalhar melhor isso comigo mesmo. Mas estou cansada de resolveram fazer as coisas e jogaram para escola. Acredito na Educação. Gosto do que faço. Mas não dá pra ficar querendo salvar o mundo. Não dá pra jogar a responsabilidade pra nós professores e dizer: olha que lindo, o Brasil pratica a inclusão!
Ando cansada porque sei e acredito que a escola é um lugar onde as mudanças podem acontecer. Mas, sozinhos não vamos fazer nada. Temos o poder, mas parecem que fazem de tudo para que não nos apossemos desse poder, não é?
Vejamos o caso da inclusão: não perguntaram para mim se eu queria que esses alunos viessem para a escola regular. Não acho que o modelo antigo seja o correto, mas colocar um aluno numa sala de aula “comum” sem preparar o professor antes é crime. Uma sala de aula é muito heterogênea. Tem de tudo: alunos que aprendem facilmente e outros não. E muitas vezes temos dificuldades de lidar com esses que não aprendem. O que dirá o que necessita de cuidados especiais! Sabe por que não sabemos? Porque não nos ensinaram. Nos nossos cursos de formação ainda predominam a visão behaviorista: aquela em que se acredita em que a aprendizagem ocorre através da repetição. Na prática é assim: o professor fica lá na frente, usando giz e quadro, fala, fala, fala e quer que o aluno memorize tudo o que está no livro e o que ele falou...
A educação está recheada de sintomas que dessa maneira não está dando certo. E insistimos nessa prática. Tem até um texto famoso que diz que se uma pessoa do século passado visitasse nosso mundo, o único lugar que ele se sentiria em casa é na instituição escolar.
Se não está funcionando assim, o que dirá com quem tem outras necessidades... E aí, vejo uma luz no fim do túnel: quem sabe a inclusão não nos force a mudar.
Falei no inicio que o tema inclusão me leva a mais perguntas e aí estão elas:
• É só a escola que precisa fazer a inclusão? Nos EUA, pelo que vejo em filmes e leio em livros o Estado dá assistência social aos deficientes. Tem um fundo financeiro específico para estas pessoas. Eles podem inclusive morar sozinhos, custeados pelo governo. O governo cuida deles. Já que o governo brasileiro gosta tanto de copiar os americanos...
• Até quando nós professores vamos aceitar essas imposições? [No fim acaba “sobrando” para aqueles que não “fazem corpo mole” ou que querem agradar (fazer de bonzinho aos olhos dos outros).]
• E as Apaes? Vão deixar de existir?
• E os outros alunos não são prejudicados devido ao ritmo todo diferente da sala?
• Cabe só ao professor receber uma formação? E os dirigentes?
Ao pensar nisso tudo, sinto que até sai fumaça da cabeça... Heheheeheh.... Cada questionamento remete a outros... Estão querendo extinguir as Apaes, quando sabemos que é necessário uma equipe multidisciplianar para atender estas crianças. Por acaso, o governo vai disponibilizar uma equipe multidisciplinar para cada criança?
Talvez devêssemos pensar com a cabeça e não só com o coração... Afinal, é isso que percebo: pessoas sensíveis querem um tratamento igual para quem não é igual. E uma pergunta que insiste em martelar em minha cabeça: estamos incluindo ou excluindo? Porque colocar a criança numa escola regular sem as mínimas condições é excluir, é ser desumano. Convenhamos, não é uma decisão fácil de tomar: numa sala cheia você dá atenção a quem primeiro?

É melhor parar por aqui, antes que minha cabeça ferva... (rs,rs,rs)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Esses alunos que não aprendem...


Sentado ali num canto. Tímido (ou desatento). Receoso de perguntar o que não entendeu. Para não demonstrar que não sabe, copia de seu colega.... E o professor quando não está atento, ilude-se ao achar que ao ter as respostas esperadas, o aluno aprendeu...E surpreende-se na hora da correção da prova.
É esse o cenário que se descortina no cotidiano de uma sala de aula...
E, esse quadro está implícito tantos fatores: concepção de aprendizagem, linguagem utilizada, olhar do professor em relação ao aluno, meio em que o aluno vive, dificuldades etiológicas etc, etc, etc, etc,etc.
Ao listar alguns dá para perceber que estes fatores são complexos. Por isso, vou me deter em apenas um: concepção de aprendizagem da escola. Mas este tema também se amplia, pois ao falarmos de escola estamos falando de todos que estão inseridos em seu contexto. A escola precisa de uma filosofia de trabalho, uma proposta a ser seguida. Mas quem “dá” essa linha: o professor, o diretor, a secretaria estadual ou municipal de educação?
No final das contas, onde acontece a ação de educar é na sala de aula. E então chego no ponto: qual é a minha visão de mundo enquanto professor? O que está implícito nos conteúdos que seleciono (embora em alguns casos o professor não tenha mais autonomia para isso)
Se vivemos numa teia de relações, o meu olhar, o meu falar, o meu ensinar está vinculado ao mundo que acredito e que construo diariamente.
Não, não é fácil ser professor. A responsabilidade é tanta! Mas no nosso trabalho o objetivo é a aprendizagem. Mas será que nos perguntamos: como meu aluno aprende? Para que devo ensinar isso? Será que é possível ensinar esse conteúdo indo além da fala, giz e papel? Enfim, isso ação-reflexão-ação.
Para essa reflexão acontecer preciso ver meu aluno como um ser único. E aí está um grande desafio, pois a correria, as salas cheias, o horário a cumprir as vezes nos impedem uma aproximação. Portanto, para mim aí está a chave: contato direto. Preciso estar perto do meu aluno, ouvi-lo para tentar entender qual foi sua linha de raciocínio (se é que houve alguma).
Mesmo sendo professora e tentando estabelecer esse vínculo com meus alunos, as vezes me sinto como se tivesse que ser uma super-heroína. Mas, não somos e não temos respostas para tudo. E como gosto de sempre encontrar respostas para as perguntas que me afligem, entrei num curso de Psicopedagogia. Com isso, pretendo desvendar a “caixa-preta” que por vezes a aprendizagem se torna. Diz Sá (2006) que muitas vezes nos comportamos como os gregos diante da esfinge: não sabemos se as dificuldades nos engolfam ou se a deciframos. E ficamos assim, cada um em nossa sala de aula, tentando resolver o problema...
Quem sabe se começarmos de fato ao praticar a colaboração para unir forças não nos angustie menos...

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